Relatório do debate sobre Mestrado X Doutorado Direto



“Mestrado X Doutorado Direto”

 

 O debate “Mestrado x Doutorado Direto”, tema proposto pela disciplina “Debates atuais em Ciências Biomédicas” (BMB5805) do Programa de Pós-graduação em Fisiologia Humana do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, foi realizado no dia 25 de abril de 2006 às 17 horas no anfiteatro rosa do Edifício de Ciências Biomédicas IV da Universidade de São Paulo.

 

Os debatedores convidados foram:

·            Profa. Dra. Deborah Suchecki (Professor Adjunto do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo)

·                Prof. Dr. Luiz Eugênio Araújo de Moraes Mello (Coordenador Adjunto da FAPESP - Área Ciências da Vida e Pró-Reitor de Graduação da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo)

·                    Prof. Dr. Armando Corbani Ferraz (Pró-Reitor de Pós-Graduação da USP)

 

O debate teve início com as apresentações individuais de cada debatedor, onde estes tiveram a oportunidade de expor suas idéias sobre o tema proposto.

As apresentações individuais começaram com a Profa. Dra. Deborah Suchecki que fez uma defesa do Mestrado (M), porém iniciou sua apresentação dizendo que ela não é contra o Doutorado Direto (DD), mas que só se deve optar por este último em casos muito específicos. Em seguida, a professora colocou a seguinte pergunta: “O Mestrado é dispensável?”, e então começou sua defesa explorando os seguintes pontos:

·        Pelas definições da FAPESP tanto M como DD possuem os mesmos requisitos para a concessão de bolsas. Sendo assim, quem julga a capacidade do aluno de participar do DD?

·        Razões subjetivas: o aluno que se inicia na carreira científica, muitas vezes sem a capacidade de redigir um projeto de Doutorado, e o projeto acaba sendo escrito em sua totalidade pelo orientador; o aluno deve ter conhecimentos do protocolo experimental, da análise dos dados, entre outros, e ter feito iniciação científica, que é uma das justificativas para a escolha do DD, não significa que ele consegue elaborar um projeto e analisar os dados; e a razão mais importante é a falta de maturidade dos alunos, maturidade esta que pode ser adquirida durante o Mestrado.

·        Razões objetivas: o mercado de trabalho no Brasil não tem condições de absorver todos os Doutores; as Universidades particulares contratam mais Mestres do que Doutores, os quais acabam ficando restritos às Universidades públicas. Portanto, muitas vezes, não se sabe o que fazer com o diploma de Doutor.

·        Uma das conseqüências da escolha do DD é a diminuição na qualidade de formação dos alunos.

·        A grande maioria dos alunos brasileiros que publicou artigos científicos fizeram Mestrado e Doutorado.

·     O DD aplicado no Brasil é copiado do modelo americano. Entretanto, a preparação dos alunos americanos é muito diferente, eles fazem dois anos de rotação em diferentes laboratórios antes de entrarem para o DD, o que não ocorre no Brasil.

Ao terminar de expor suas idéias, com certa tendência, em favor do Mestrado, a Profa. Dra. Deborah Suckecki finaliza dizendo: - “Nosso modelo de Mestrado não é indispensável”.

 

Dando seqüência ao debate, o Prof. Dr. Luiz Eugênio Araújo de Moraes Mello, iniciou sua apresentação dizendo que a escolha pelo M ou pelo DD é tomada pelo binômio Orientador-Aluno, isentando a FAPESP de qualquer responsabilidade por essa escolha. Em seguida, o professor apresentou uma visão geral da situação das bolsas concedidas pela FAPESP nas últimas décadas. O número de bolsas de Mestrado e Doutorado (D) teve um aumento de 1996 até 2000, e de 2000 a 2006 o número de bolsas foi decrescendo, sendo que a diminuição maior ocorreu para o M. Já em relação ao DD houve um aumento das bolsas até 2006, mas com números comparáveis as de M.

O Prof. Luiz Eugênio diz que o Governo Federal (comitês nacionais Cnpq e Capes) acha que não precisa investir na pesquisa em São Paulo, porque o Estado já possui uma instituição (FAPESP) com um esquema bem eficiente.

Nos dias de hoje, as porcentagens de bolsas concedidas (em relação ao número de pedidos de bolsa) para cada categoria são: Mestrado: 25%, Doutorado: 31%, Doutorado Direto: 54% e Pós- Doutorado: 45%. Ultimamente a FAPESP vem aumentando a porcentagem das cotas dedicada às bolsas, lembrando que além das bolsas, a FAPESP ainda oferece apoio financeiro para auxílio à pesquisa.

O professor encerra dizendo que a FAPESP determina o tempo de bolsa para cada categoria e não o tempo de duração da pós-graduação, isso depende do programa de pós-graduação no qual o candidato se matricula.

 

O último debatedor a se apresentar foi o Prof. Dr. Armando Corbani Ferraz. Ele iniciou sua apresentação dizendo que o DD não é uma novidade. No Brasil o Doutorado existe desde 1940, já o Mestrado passou a existir em 1967, quando começaram a surgir cursos de pós-graduação para formar fundamentalmente professores. A novidade, portanto, é a clara indução das agências de fomento para o aluno fazer DD. Nesse momento o professor lembra que a decisão de fazer M ou DD depende do orientador e do aluno, e por este motivo, não se pode ter uma indução político-financeira sobre essa decisão.

Atualmente, nas diversas áreas da pesquisa (Humanas, Exatas e Biológicas) 25% dos alunos fazem DD. Na área Biológica está concentrada a maior parte dos alunos que fazem DD, principalmente porque na Medicina existem vários programas de pós-graduação onde só existe essa opção. A justificativa para tais programas é que a residência já serve como uma preparação para o Doutorado.

O professor Armando Corbani Ferraz também questiona se existe uma boa formação dos alunos que fazem DD, e em seguida, responde: - Isso depende dos programas de pós-graduação que têm a responsabilidade de fazer uma boa seleção dos alunos, os quais devem estar preparados/maduros para um Doutorado.

O debatedor ainda levanta a questão de que a passagem da bolsa de Mestrado para Doutorado não é nem simples, nem rápida em nenhuma agência de fomento. A bolsa de DD dura um ano a menos que a de Mestrado + Doutorado e, por isso, diminui o orçamento para as agências de fomento. Em relação a FAPESP, o professor acha que é uma economia da agência e, por isso, as políticas de concessão de bolsas favorecem o Doutorado Direto e não o Mestrado.

Outro ponto levantado pelo Pró-Reitor de Pós-Graduação da USP é sobre o emprego. Ele acredita que os pós-graduados não devem se restringir apenas ao Brasil, mas devem pensar e procurar também empregos fora do Brasil.

 

Após as apresentações individuais foram abertas perguntas para o público que era composto por docentes e alunos. De maneira geral, os assuntos mais abordados no debate foram: o apoio financeiro, mais especificamente, as bolsas concedidas pela FAPESP e a absorção de Doutores e Mestres pelo mercado de trabalho no Brasil.

 

 

Organizadores:

 

André Cravo

Gabriela Pena Chaves

Gabriele Ebling Mattos

João Paulo Camporez

Jozélia Gomes

Klebert Toscano