Relatório do debate sobre Papel das Fundações na USP


O Papel das Fundações na USP

No dia 23 de maio de 2006 a disciplina BMB-5805 – Debates Atuais em Ciências Biomédicas – organizou o debate “O papel das Fundações na USP”, que teve como objetivo geral, discutir um dos grandes questionamentos ao funcionamento das fundações com convênio com a USP, que é a sua transparência, ou falta dela. Na “coisa” pública, a legislação garante que os processos de seu funcionamento sempre se darão de forma clara e justa. Os órgãos públicos possuem meios, por exemplo, para dar um cargo à pessoa que se prove mais capaz, por concurso; para conseguir sempre o melhor serviço, por meio de licitações; e garante por mecanismos de controle e pelo caráter público de suas informações que as mesmas serão publicadas, assim dificultando ilegalidades e mau uso da máquina estatal.

Foram convidados para participar do debate o Prof. Dr. Ciro Teixeira Correia (Professor Associado e Chefe do Departamento de Mineralogia e Geotectônica do Instituto de Geociências e ex-Presidente da ADUSP, Gestão 2001-2003) e o Prof. Dr. Gilberto De Nucci (Professor Titular do Departamento de Farmacologia do ICB/USP, responsável pela Unidade Analítica Cartesius sediada no referido Departamento e Professor Associado do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas/UNICAMP).

Dado início ao debate, o Prof. Ciro fez as suas primeiras considerações sobre o tema. Segundo ele, os recursos públicos em grande parte financiam fundações privadas ditas de apoio, de caráter não lucrativo e não empresarial. Em relação aos lucros, essas fundações remuneram seus próprios participantes, sobretudo os docentes, e transferem para a USP recursos inferiores a 2% do orçamento da Universidade Essas fundações são dirigidas por pessoas que exercem ou exerceram cargos de confiança na adminidtração da USP. Além disso, deve-se considerar a ilegalidade do acúmulo de cargos por funcionários públicos, sendo proibido fazer contratos de natureza comercial e industrial com o Governo, por si, ou como representante de outrem; participar da gerência ou administração de empresas bancárias ou industriais, ou de sociedades comerciais, que mantenham relações comerciais ou administrativas com o Governo do Estado.

Ainda de acordo com o Prof. Ciro, as fundações são conceitualmente um patrimônio financeiro ou material privado colocado a serviço de uma causa de interesse social. No caso das fundações privadas ditas “de apoio”, estas se transformaram numa causa privada a serviço da constituição de patrimônios também privados, às expensas da credibilidade das instituições públicas as quais se vinculam, e dos recursos públicos que elas administram. Para finalizar, comenta que não se trata de extinguir as Fundações Privadas “de apoio”, mas sim, de denunciar e desconstituir através de seus estatutos, diretorias e conselhos curadores que estabeleçam vínculos com cargos ou com ocupantes de cargos públicos.

Posteriormente, o Prof. Gilberto faz seus comentários acerca das fundações na USP, ressaltando que uma vantagem destas seria com relação à aquisição de alguns equipamentos. Com isso permitir-se-ia investir em tecnologia de ponta dentro do laboratório e prestar serviços, trazendo lucros e crescimento, mesmo que indiretos, para a Universidade. No entanto, quem deve “policiar” se a Universidade está perdendo a identidade com o surgimento das fundações são os próprios docentes e os prestadores desses serviços.

É importante destacar que o Prof. Ciro coloca que não é contra nenhuma fundação, sobretudo àquelas que trazem lucros para a Universidade; o problema é que as fundações operam em interesse privado, em interesse de grupos às custas da infra-estrutura e do reconhecimento da Universidade pela sociedade.

No restante da palestra, o Dr. De Nucci teceu críticas sobre como as instituições públicas tratam a questão das parcerias. Disse que a legislação é atrasada, inclusive em relação aos contratos dos professores. Segundo ele existe uma “burrocracia” que inibe essas parcerias, chegando a ser melhor não fazê-las a se enfrentar toda a burocracia. Falou ainda, da questão de patrimônios e da dificuldade de se manter uma Fundação e parcerias com instituições privadas. Mas, termina afirmando que as Fundações trazem muitos benefícios para Universidade, tanto financeiros quando de reconhecimento científico e na qualidade de prestação dos serviços.

A platéia participou bastante do Debate tentando compreender melhor como funcionam as Fundações e quais as vantagens e desvantagens das mesmas para a Universidade Pública, especificamente para USP, parâmetros que foram bem esclarecidos pelos debatedores, reafirmando a importância de se discutir temas polêmicos e atuais como esse.