Relatório do debate sobre Políticas de Emprego para Pós-graduados


Organizadores:

 

Beatriz Alves de Castro Barros

Camila Bruder

Camilla Ferreira Wenceslau

Hilton Kenji Takahashi

Rafael Herling Lambertucci

 

 

O debate “Políticas de emprego para pós-graduados”, tema proposto pela disciplina “Debates atuais em Ciências Biomédicas” (BMB5805) do Programa de Pós-graduação em Fisiologia Humana do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, foi realizado no dia 06 de março de 2006 às 17 horas no anfiteatro rosa do Edifício de Ciências Biomédicas IV da Universidade de São Paulo.

Os debatedores convidados foram:

 

Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti
(Deputado Federal pelo Estado de São Paulo; ex-Reitor da UNICAMP; Professor Titular do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina/USP; ex-Secretário da Educação e da Saúde do Estado de São Paulo; ex-Secretário de Educação da Prefeitura do Município de São Paulo/SP).

Dr. Samuel dos Santos Guerra Filho
(Diretor de Pesquisa e Marketing da Allergisa Pesquisa Dermato-Cosmética Ltda; ex -Professor de Farmacotécnica na Faculdade de Farmácia Oswaldo Cruz; ex-Coordenador dos Laboratórios do Curso de Farmácia da Faculdade Oswaldo Cruz).

Prof. Dr. Renato Padovese(Diretor Adjunto da mantenedora da Universidade Cruzeiro do Sul).

O debate teve início com as apresentações individuais de cada debatedor.

 

O Dr. Samuel Guerra começou sua exposição falando sobre as áreas de atuação de sua empresa, a Allergisa, afirmando que esta nasceu na universidade como uma consultoria para empresas. Segundo ele, dentro do corpo de profissionais da empresa há o estímulo para a realização de uma pós-graduação. Tal posição é vantajosa porque o funcionário já possui a cultura da empresa e a sua qualificação será aplicada diretamente sobre as funções que desempenha no emprego.

O Dr. Guerra afirmou que a contratação de um recém pós-graduado é dificultada por alguns aspectos como a falta de experiência em um ambiente de trabalho privado e o tempo necessário para que este absorva a cultura da empresa e consiga aplicar o conhecimento adquirido durante a sua vida acadêmica no serviço. O alto custo do profissional com pós-graduação faz com que ele seja o primeiro a sofrer cortes se a uma empresa não obtiver uma alta produtividade. Outro ponto lembrado é que o profissional precisa interagir com os mais diversos setores e pessoas para  sobreviver no meio privado. Assim, o treinamento e a ambientação na empresa levam tempo, e, nas suas palavras, “tempo é finito e tempo significa dinheiro”.

O debatedor ressaltou que a indústria nacional não tem preparo para a absorção desta massa de profissionais altamente qualificada e criticou a falta de interação entre as instituições públicas e privadas, isto é, as universidades e centros de pesquisas e as empresas.

 

A apresentação do próximo debatedor, o Prof. Dr. Renato Padovese, teve como foco principal a empregabilidade dos pós-graduados nas universidades particulares. Segundo ele, a universidade particular é um receptáculo de profissionais no ensino, pesquisa e extensão, constituindo uma opção real na perspectiva de futuro para pós-graduados.

O Prof. Dr. Padovese ressaltou que A LDB/96 obriga as instituições particulares a manterem 1/3 do corpo docente formado por mestres e doutores. Além disso, essas instituições se esforçam para contratar profissionais pós-graduados porque estes são considerados indicadores de qualidade. Segundo ele, a procura por indicadores de qualidade apoia-se em três pontos: localização, preço e infra-estrutura, principalmente do corpo docente.

O Prof. Dr. Padovese lembrou que a formação de pós-graduados tem crescido consideravelmente nos últimos anos e que isso ocorreu junto a uma expansão da demanda pelo ensino superior. Diante deste quadro a iniciativa privada montou cursos de ensino superior e contratou esses profissionais, tanto mestres como doutores, visando melhorar o desempenho e a qualidade de seus cursos.

O Prof. Dr. Padovese ressaltou que nessas instituições, como em qualquer atividade privada, há  concorrência. O aumento na oferta levou à diluição da demanda por cursos; para atrair novos alunos, houve queda nas mensalidades e, em conseqüência, queda na receita. Tal posição levou as instituições privadas a renegociarem contratos salariais, demitindo profissionais e contratando outros com redução salarial.

Como perspectivas para o futuro, ele destacou a continuidade das contratações e a criação de programas de pós-graduação e pesquisa nas universidades particulares, já que tais posturas também são consideradas indicadores de qualidade.

 

O Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti abordou em sua exposição a falta de uma política de aproveitamento dos mestres e doutores.

Segundo ele, existe um progresso real no número e qualidade dos alunos dos cursos de pós-graduação, principalmente na exigência da qualidade destes pelos órgãos financiadores de pesquisas. Além disso, ressaltou que o índice de desemprego dos profissionais com título fica em torno de 1 a 2%, indicando que o mercado absorve estes profissionais. No entanto, ainda faltam políticas de inserção, já que grande parte destes profissionais está subaproveitada, restringindo-se apenas a dar aulas.

O Prof. Dr. Pinotti criticou a falta de um elo tecnológico entre universidades e indústrias. A primeira seria responsável pela tecnologia e a última, pela produção. A falta deste elo leva à falta de produtos agregados, um outro índice de desenvolvimento. O Prof. Dr. Pinotti criticou, ainda, a forma de condução pelo governo para este impasse.

Segundo ele, falta uma política eficiente para avanço tecnológico. Isso resultou em vários frutos negativos como a lei de patentes e o projeto SIVAM. Tal atitude impediu o investimento no crescimento tecnológico, economia de dinheiro público e a absorção da massa de trabalhadores qualificados. 

O Prof. Dr. Pinotti finalizou lembrando que a elaboração de um projeto de desenvolvimento tecnológico e de absorção dos profissionais depende basicamente de pressão sobre os órgão governamentais.

 

No debate entre os participantes e platéia, os pontos mais questionados foram as qualidades e características necessárias para a contratação de um profissional pós-graduado e quais seriam os estímulos necessários para incentivar tal contratação.

 

Para o Dr. Guerra, uma solução seria uma maior interação entre o privado e universidades. No entanto, os resultados dessas parcerias são apenas pontuais. O setor privado nacional  possui a cultura de capitalismo selvagem e portanto não possui expectativas a médio e longo prazos, se preocupando apenas com resultados imediatos. Empresas como a EMBRAER, no entanto, tem mudado essa visão, investindo em cérebros e tecnologia como forma de crescimento e manutenção de seu status frente ao mercado internacional.

 

Para  o Prof. Dr. Padovese,  nos EUA a maior absorção destes profissionais está nas indústrias, ao contrário do Brasil, em que a concentração está nas universidades. Portanto, o estímulo à inovação tecnológica nas indústrias seria uma forma de absorver esta massa de profissionais qualificados. Com relação ao estímulo para maiores contratações em universidades particulares, um dos entraves é a legislação que impede a renegociação salarial, fato que obriga a demissão e contratação por um salário mais baixo, o que leva muitas vezes à contratação de um graduado apenas. Além disso, os salários deveriam ser por categoria funcional e não por titulação. Com a readequação de custos, a demissão é preferencial a doutores.

Outro ponto de estímulo seria o financiamento dos estudos de alunos como forma de aumentar a receita das instituições. Como a limitação de estudos está ligada à concentração de renda, o financiamento seria uma opção ideal, já que em teoria uma pessoa graduada possuirá uma maior renda, permitindo o custeamento deste.

 

Para o Prof. Dr. Pinotti, é evidente a falta de aproveitamento de mestres e doutores. Além disso, falta atrelar a pesquisa à tecnologia. Tal cenário se deve aos altos custos, pois trata-se de um investimento de risco. Quanto ao investimento em instituições de ensino privado, há ressalvas, uma vez que estas sofrem com a alta taxa de inadimplência e concorrência. O investimento em pesquisa nestas também é baixo devido aos altos custos de manutenção. Quanto ao financiamento de alunos no curso superior, como no PROUNI, a grande preocupação é se o aumento do número de alunos no ensino superior seria aproveitado eficientemente e se as instituições manteriam um padrão de qualidade devido ao aumento dessa oferta de alunos.