Relatório do debate Reforma Universitária



DEBATE REFORMA UNIVERSITÁRIA (29/03/2005)



Debatedores:

Prof. Dr. Fredric Michael Litto

Coordenador Científico da Escola do Futuro/USP e Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED)
Prof. Dr. Osvaldo Luis Angel Coggiola
Vice-Presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES) e Autor do Artigo “Contra essa reforma universitária” (17/03/2004)
Prof. Ms. Euler Pereira Bahia
Reitor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) e 1º Secretário da Associação Brasileira de Instituições Educacionais Evangélicas (ABIEE), entidade integrante do Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação de Ensino

    Há um debate que tem centralizado as atenções do Ensino Superior Brasileiro, a Reforma Universitária. Nos primeiros dos anos do governo Lula a discussão tomou tamanha proporção que chegou a derrubar um ministro da Educação. No começo de 2004, descontente com a condução do projeto pelo então ministro Cristovam Buarque, o presidente decidiu trocá-lo por Tarso Genro. Em dezembro de 2004, Genro apresentou à comunidade acadêmica a primeira versão do anteprojeto de Reforma Universitária, com 100 artigos que levariam em conta todo o sistema de Ensino Superior. Esta primeira versão de anteprojeto causou grande controvérsia em diferentes setores da sociedade.

    Quanto à necessidade de se reorganizar o sistema de Ensino Superior, alunos, docentes, dirigentes e sociedade estão de acordo e são unânimes em pedir uma mudança profunda, comprometida com a inclusão social. O que se questiona é a forma como ela será feita. Neste contexto, este tema foi escolhido para debate na disciplina “Debates Atuais em Ciências Biomédicas” (BMB5805).

    O primeiro debatedor, Prof. Litto, foi contrário à homogeneização do Sistema de Ensino Superior proposto pelo MEC. Por exemplo, um curso de medicina do Rio Grande do Norte não tem que ser idêntico a um no Rio Grande do Sul, pois deve-se respeitar as diferenças regionais existentes. Desta maneira, ele sugere a valorização da criatividade do corpo docente local e o incentivo de diferentes propostas pedagógicas das Universidades. Com relação à proposta do MEC em comprar vagas em Universidades Particulares (ProUni), Litto se posicionou contra, defendendo um redirecionamento dessa verba para o investimento nas Universidades Públicas. Além disso, acha que a Universidade Pública deve ser gratuita para a população de baixa renda, e deve ser paga para a população de alta renda. Litto manifestou-se também a favor do sistema de distribuição de cotas, citando como um exemplo positivo a ascensão sócio-econômica de negros e latinos no mercado de trabalho norte-americano. Porém, no Brasil, a seleção de vagas para as cotas é um problema que deve ser solucionado. Outro problema discutido por ele foi a endogenia, citando como exemplo a USP, onde a maioria dos seus docentes fizeram graduação e pós-graduação nesta instituição. Logo não ocorre uma distribuição de conhecimentos e de recursos humanos para outras regiões. Referindo-se à gestão das Universidades, Litto sugeriu um mandato mais prolongado para os reitores, uma vez que com quatro anos o reitor começa a entender o funcionamento da máquina burocrática da Universidade. Por fim, concluiu sua exposição dizendo “… o problema da Reforma Universitária não é só financeiro, mas principalmente cultural…”.

    O segundo debatedor, Prof. Coggiola, foi contra a meta do MEC que garante a expansão de vagas no sistema público através da expansão do ensino à distância, o qual, segundo ele, é desqualificado. Além disso, o número de estudantes por classe e a carga horária didática seriam elevados provocando uma queda na qualidade do ensino superior. Coggiola, em conjunto com a ANDES e a UNE, acredita que a Reforma Universitária proposta pelo ministro Tarso Genro é privatizante em relação às Universidades Públicas. Por fim, concluiu que “… não é possível salvar pedaços da Reforma Universitária proposta…” ressaltando uma clara posição de rejeição a esta “pseudo” Reforma Universitária.

    O terceiro debatedor, Prof. Bahia, iniciou elogiando a iniciativa do governo de organizar a Reforma Universitária, porém achou que a proposta foi elaborada por um grupo restrito. Colocou que as entidades representativas das instituições que integram o sistema privado da educação brasileira estavam reunindo-se em Brasília, neste mesmo dia, para manifestar a necessidade de discutir e reformular o anteprojeto de Reforma Universitária proposto pelo Ministério da Educação. Segundo Bahia, existe vagas ociosas tanto no setor Público quanto no Privado deixando claro que a falta de ocupação nas Universidades é devido a um precário ensino básico e fundamental, sugerindo uma Reforma Educacional Unificada. Além disso, manifestou-se favorável à inclusão social defendida pelo MEC, mas disse que o ProUni é mais um programa dos vários já existentes. Finalizando o debate, disse que o anteprojeto do governo foi hostil em relação a setor privado, uma vez que existem instituições privadas sérias cumprindo seu papel no sistema educacional brasileiro.

    Como caráter informativo, atualmente (julho de 2005) uma nova proposta de Reforma Universitária está sendo encaminhada e entrará novamente em discussão. A partir desse segundo texto, um novo será compilado e, segundo promessa do ministro Tarso Genro, levada ao Congresso Nacional até o final de julho deste ano.